Estatua? Vivo!



Não sei o que isso dará...
So sei que parado não dá.
Parece que não cansa mas, engessa.
Petrifica o sentimento, o olhar, cadê a vida?
Assim não posso ficar. Então, sigo.
Para aonde, se até agora pus terra nos olhos...
Preciso me lavar.
Começo um choro discreto, incrédulo, contido.
No inicio, a terra vira barro , barro salgado que tendo moldar e disfarçar.
Modelar uma nova mascara a fim de  me segurar, mas até quando me esconder.
Naquilo que não me serve . Só porque não é o natural, livre, leve , nu.
Agora, alem do rosto marcado, percebo as mãos borradas pela lama; que precisam ser salvas dessa prisão que esconde tudo e não liberta nada.
Choro um choro forte, mais intenso, daqueles que chega a fazer cócegas nos alvéolos pulmonares . Esse que puxa o soluço e se expande. Logo em seguida, o sorriso é inevitável pois pede para ser integrado, ficar junto. Assim, tudo se acalma.
A partir disso,  ergo o pescoço deixando o ereto e com o peso do barro a mascara cai e se espatifa bem em cima dos meus pés que aparentemente estavam fixos ao chão, como uma estatua.
Ah quanta ilusão. Não basta somente a cara ficar limpa.
Olho fixamente para as mãos, que não se tocam diretamente devido a tanta terra molhada, tão dissonantes, partes que pareciam se encaixar mas se acham singulares,diferentes.
Resolvo abaixar para catar os cacos. E aos poucos a terra se espalha ainda mais e escorre pelo corpo.
De que adianta agora o corpo sujo, pés fixos apesar de cara e mãos limpas?
Não sei mais o que fazer. Até que decido por silenciar. Silencio as ideias,ergo ainda mais a  cabeça e as mãos.  Peço por ajuda. Espero. Espero.
De repente, um vulto. Um gari com sua roupa de astronauta das ruas. Cantarolando uma musica das antigas. Feliz. Timbre perfeito, ali varrendo. E como já não é mais incomum fingir me de estatua, ali permaneço, calado. Ate que  um esfregão úmido atinge meus olhos. Cheiro de sabão e dedicação.
Ele simplesmente me limpa por inteiro. Do começo ao fim. E sorri. Senta ao meu lado. Me oferece seu lanche.
Ja não consigo mais segurar o fôlego e antes que eu diga um oi, ele vai embora cantarolando.
Olho para baixo. Constato a liberdade doa pés a cabeça e antes de partir vejo um bilhete.
Leio o . Vou aos prantos de imediato. Aceito a alegria. Sorriu e sigo adiante, sem olhar para trás.
O que estava escrito naquele bilhete em letra cursiva, daquelas bem alongadas e definidas , você pode me perguntar. Respondo te que algo bem simples." Um dia pensei ser estatua, não sou e nem você.  sou grato a quem me limpou. Desde então, limpo tudo e todos  que encontro, sem olhar para trás, feliz! "

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